Das putas, a que mais amei
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Gabrielle tinha pernas compridas de aranha e
as curvas mais tímidas que já vi. Cheirava aos cigarros que fumava com os
cotovelos apoiados na soleira da janela, as pernas cruzando e descruzando de um
lado para o outro. Tinha olhos felinos, a Gabrielle. Duas órbitas negras no
rosto triangular. O nariz era pequeno e arrebitado (e se enfiava em cada brecha
do meu corpo) e a boca colorida de um batom vermelho qualquer.
Sobre os lençóis, ela até parecia parte de uma
pintura, os cabelos em cascata, os seios pontudos e as pernas arqueadas. Me
ouvia tocar piano sem dizer nada. Depois me puxava para cama e me beijava como
quem suga o outro de dentro para fora. Como quem rouba o outro de dentro de si
mesmo. Gabrielle era a fome e eu, o desjejum. Assim então dançávamos na cama,
corpo contra corpo, corpo com corpo, corpo dentro do outro corpo. Nos
encaixávamos um no outro feito quebra-cabeça novo. Aí então ela levantava-se,
colocava o vestido – e eu o observava escorregar pelos seus braços, pelo seu
corpo, seguia para o espelho e retocava o batom vermelho, depois penteava os
cabelos desgrenhados com os dedos e sorria.
Sim, foi bom, dizia ela enquanto procurava
cerveja na geladeira. Nem sempre, no entanto, ela era Gabrielle. Ás vezes era
Luana, Maria, Geovana. Para mim era sempre Gabrielle.
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