Das putas, a que mais amei

12:39

Gabrielle tinha pernas compridas de aranha e as curvas mais tímidas que já vi. Cheirava aos cigarros que fumava com os cotovelos apoiados na soleira da janela, as pernas cruzando e descruzando de um lado para o outro. Tinha olhos felinos, a Gabrielle. Duas órbitas negras no rosto triangular. O nariz era pequeno e arrebitado (e se enfiava em cada brecha do meu corpo) e a boca colorida de um batom vermelho qualquer.
Sobre os lençóis, ela até parecia parte de uma pintura, os cabelos em cascata, os seios pontudos e as pernas arqueadas. Me ouvia tocar piano sem dizer nada. Depois me puxava para cama e me beijava como quem suga o outro de dentro para fora. Como quem rouba o outro de dentro de si mesmo. Gabrielle era a fome e eu, o desjejum. Assim então dançávamos na cama, corpo contra corpo, corpo com corpo, corpo dentro do outro corpo. Nos encaixávamos um no outro feito quebra-cabeça novo. Aí então ela levantava-se, colocava o vestido – e eu o observava escorregar pelos seus braços, pelo seu corpo, seguia para o espelho e retocava o batom vermelho, depois penteava os cabelos desgrenhados com os dedos e sorria.

Sim, foi bom, dizia ela enquanto procurava cerveja na geladeira. Nem sempre, no entanto, ela era Gabrielle. Ás vezes era Luana, Maria, Geovana. Para mim era sempre Gabrielle.

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